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Mulheres de todas as regiões do Estado participarão de uma pesquisa que será realizada Emater/RS-Ascar, conveniada à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR). O estudo será feito pela Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) do Rio Grande do Sul.
O lançamento desta pesquisa ocorreu nesta sexta-feira (12), em um evento conjunto com a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) que divulgou o relatório técnico “Desigualdades de gênero dos ocupados com atividades ligadas à agricultura no RS”, desenvolvido pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à SPGG.
De acordo com a Emater, mais de 500 extensionistas de 462 municípios gaúchos estarão envolvidos na pesquisa, que se inicia nos próximos dias e segue até 17 de janeiro de 2022. A Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) do RS realizou, de janeiro a outubro deste ano, atividades específicas junto a 41.153 das 89.250 mulheres rurais que recebem e participam de ações.
A extensionista e responsável pelas ações de Aters a Mulheres Rurais na Emater, Clarice Bock, diz que, por meio do levantamento, busca-se conhecer o envolvimento das mulheres nas rotinas de trabalho da propriedade rural; como estão envolvidas na tomada de decisões nos diferentes âmbitos da vida familiar; a forma de gestão e acesso aos recursos financeiros nas propriedades; os espaços sociais representativos que a família participa, além de analisar os papeis sociais e responsabilidades de acordo com o gênero familiar; identificar o grau de conhecimentos das mulheres a respeito da saúde, das violências e direitos sociais e seu acesso às redes sociais.
Relatório Desigualdades de gênero
Assinado pelos pesquisadores do Departamento de Economia e Estatística (DEE) Daiane Menezes, Mariana Lisboa Pessôa e Henrique Souza da Silva, a partir de parceria com a Emater e com a SEAPDR, o relatório utilizou dados do Censo Agropecuário, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Cadastro Único (CadÚnico), da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O documento demostrou que a população predominantemente masculina e com faixa etária acima dos 55 anos são algumas das principais características das pessoas ocupadas com atividades relacionadas à agricultura, à criação de animais, aos trabalhos florestais e à pesca no Rio Grande do Sul.
De acordo com estimativas de 2019, o Estado tinha 4,4% da sua população ocupada no âmbito rural, o que equivale a 498.410 pessoas, sendo 352.439 homens (71% do total) e 145.701 mulheres (29%). O percentual está acima do registrado no total da população do RS (51% de mulheres e 49% de homens).
Em relação à idade, o relatório mostra que 59% das mulheres com atividades ligadas ao campo tinham 55 anos ou mais, sendo 30% entre 55 e 64 anos, 21% de 65 a 74 anos e 8% com mais de 75 anos. Considerando o total de mulheres no Estado, o percentual de pessoas acima dos 55 anos é de 36%. Entre os homens, chega a 55% o percentual de ocupados nos setores ligados à agropecuária com mais de 55 anos, quando o percentual de homens dessa faixa etária na população em geral não passa de 35%.
Quanto à raça/cor, a população branca é predominante entre os ocupados na agropecuária, tanto entre os homens (87%) quanto entre as mulheres (90%), sendo que os pretos e pardos representam 12% e 10% do total, respectivamente. O percentual de brancos no campo é superior ao registrado no total da população do Rio Grande do Sul, onde representam 78% entre os homens e 80% entre as mulheres.
Conforme o documento, o Rio Grande do Sul tem 365.094 estabelecimentos rurais, sendo 293.892 relativos à agricultura familiar (80,5%). Considerando apenas essa modalidade, 12,2% dos estabelecimentos são chefiados por mulheres no Estado, abaixo do registrado no Brasil, onde 19,7% dos locais estão sob chefia de mulheres.
Quanto à idade dos produtores da agricultura familiar no RS, a faixa etária predominante é de 45 a 75 anos. Entre os homens, o percentual de pessoas é de 72,1% enquanto entre as mulheres é de 67,2%. Em relação à raça/cor dos agricultores familiares, no RS a população branca representa 92,3%, enquanto no Brasil essa mesma faixa é de 43,4%.
Escolaridade
Quanto à escolaridade dos ocupados em setores ligados à agricultura, o documento mostra que as mulheres de mais idade têm menor grau de instrução quando comparadas aos homens de mesma faixa etária, resultado que se modifica conforme são consideradas as mulheres e homens mais jovens.
Na faixa etária acima dos 75 anos, 9,6% das mulheres tinham menos de um ano de instrução e 90,4% contavam com Ensino Fundamental incompleto enquanto entre os homens da mesma idade 78,7% tinham Ensino Fundamental incompleto, 3,6% tinham menos de um ano de instrução, 12,5% tinham Ensino Fundamental completo e 5,2% tinham Ensino Superior completo.
Na faixa etária de 25 a 34 anos, por exemplo, 7,3% das mulheres tinham Ensino Superior completo e 34,6% contavam com Ensino Médio completo, enquanto entre os homens os percentuais eram de 10,4% e 31,1%, respectivamente.
Renda
Quanto à renda per capita, o relatório técnico do DEE/SPGG indica que há uma menor concentração de pobreza entre os ocupados nas atividades agrícolas do que entre o total do Rio Grande do Sul, ou seja, menos pessoas ganham menos do que um salário mínimo por mês em relação ao total da população. No entanto, também há uma menor concentração de pessoas em famílias com renda per capita maior do que cinco salários mínimos na comparação com a totalidade.
Em relação à saúde, há uma diferença significativa entre homens e mulheres ocupados em setores ligados à agricultura que afirmam ter uma saúde muito boa. Enquanto para os primeiros o percentual é de 16%, para as mulheres é de 5,4%. Quando é considerado o total de mulheres ocupadas, o percentual chega a 16,8%.
No tema saúde mental, quando questionadas sobre depressão, as mulheres com a ocupação ligada ao campo foram as que mais responderam que se sentem assim “mais da metade dos dias” (12,1%), enquanto essa alternativa não foi citada pelos homens com o mesmo tipo de profissão. O percentual das agricultoras ficou acima do verificado no total de mulheres ocupadas, em que 6,7% disseram se sentir deprimidas mais da metade dos dias.
Violência e representação política
Conforme dados de 2019 em relação a casos de violência verbal, um percentual de 13,9% das mulheres com ocupação ligada ao campo foram ofendidas, humilhadas ou ridicularizadas na frente de outras pessoas, muito superior ao percentual de homens na mesma situação (2,7%) e do total de mulheres de todas as ocupações (9,3%). Quanto aos casos de violência física, nenhuma mulher afirmou ter sido agredida com tapa ou bofetada no período de 12 meses ou ainda ameaçada com faca ou arma de fogo. Em relação à violência sexual, 5,3% das mulheres com atividades rurais afirmaram que alguma vez na vida tinham sido vítimas de abuso sexual, ante 4,6% do total das mulheres do Rio Grande do Sul.
Em relação à representatividade política, em 2020 um total de 1.037 agricultores foram eleitos para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador – redução em relação ao ano de 2016, quando foram 1.178. Quando consideradas apenas as mulheres agricultoras eleitas para os mesmos cargos, o número caiu de 103 para 93 eleitas.
“Os dados do relatório técnico demonstram a importância de ações que incentivem o empreendedorismo rural e o acesso ao crédito por parte dessas mulheres, além de chamar a atenção para a necessidade de um cuidado especial com saúde mental daquelas que têm ocupações ligadas à agricultura”, afirma a pesquisadora Daiane Menezes.
Fonte: Foto: Fernando Dias/SEAPDR, Redação O Sul