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Com um resultado acirrado no primeiro turno das eleições de 2 de outubro – Lula (PT) recebeu 48,43% dos votos e Jair Bolsonaro (PL) 43,20% –, os candidatos que disputarão à Presidência do país no próximo dia 30, têm um árduo trabalho pela frente. Além de conquistar a parcela do eleitorado que apostou em outros aspirantes ao cargo de chefe do Executivo e que já não estão mais na disputa, Lula e Bolsonaro precisam lidar com um obstáculo silencioso se quiserem vencer a corrida eleitoral. Os dados comprovam que o número de abstenções tende a ser maior no segundo turno.
No primeiro turno, 32 milhões de brasileiros não compareceram às urnas. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o nível de abstenção representa 20,95% do eleitorado, visto que este ano mais de 156 milhões de brasileiros estão aptos a votar.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Piauí Joscimar Silva explica que a abstenção do segundo turno “costuma ser maior, pois os eleitores que rejeitam os dois primeiros candidatos podem optar por não votar, ou, ainda, votar branco ou nulo.” O professor acredita também que o primeiro turno aparenta “ser mais empolgante para o eleitor”.
As estatísticas demonstram que o nível de abstenções foi maior no 2º turno das duas últimas eleições presidenciais. Em 2014, por exemplo, 21,10% dos eleitores não compareceram às urnas em comparação à 19,39% de abstenção no 1º turno do mesmo ano. Em 2018, o percentual aumentou. O 1º turno foi de 20,32% de abstenções e o 2º de 21,29%.
Este ano, de acordo com o cientista político, existem outros dois fatores que podem contribuir para que o número de abstenção seja maior no dia 30. Primeiro porque a votação ocorrerá entre dois feriados, o do funcionário público, no dia 28, e o de finados, no dia 2 de novembro. O segundo ponto está baseado na pesquisa Termômetro da Campanha, realizada pelo IPESPE em parceria com a ABRAPEL. De acordo com Joscimar, o estudo constatou que “75% dos entrevistados preferia que eleição encerrasse no primeiro turno, inclusive eleitores de Ciro e Tebet. O cansaço e o desgaste com a disputa eleitoral, que por vezes tem causado rompimento de amizades, convívio familiar e religioso, pode levar ao aumento do desinteresse em participar das eleições”, explica.
O cientista político reforça, ainda, que este ano “podemos ter outros fatores conjunturais e comportamentais que podem ajudar a explicar [o nível de abstenção], como é o caso da violência política”.
Além das razões atípicas que podem fazer com que os eleitores não compareçam às urnas no próximo pleito, existem ainda, conforme explica o professor, “razões mais tradicionais” para a abstenção. Segundo ele, os motivos estão “relacionados à renda e ao tamanho do município. Em regiões mais pobres, a abstenção costuma ser maior, o que nesse caso, pode afetar diretamente o eleitor de Lula. Em cidades maiores aumenta a abstenção eleitoral, já que exige um esforço de locomoção em um dia de descanso”, diz.
O Nordeste, região onde Lula ganhou em todos os estados, a porcentagem de abstenção no 2º turno de 2018 foi de 19,88%. O cientista político afirma que a desigualdade social é um fator que contribui para o número de eleitores nordestinos deixarem de votar no 2º turno. Ele acredita que para combater esse problema seja necessário apresentar “campanhas direcionadas a propostas e promessas de um futuro melhor, para além dos ataques internos e da campanha do medo.”
Já em São Paulo, estado com o maior eleitorado do país (34.667.793 eleitores) e onde Bolsonaro ganhou no 1º turno, Joscimar Silva explica que pode existir uma falta de estímulo para votar no 2º turno, “dado o esforço e o tempo, como também por [muitos eleitores] estarem fora da cidade às vésperas de um feriado”.
Quando questionado se os eleitores este ano não estão empolgados em exercer o direito ao voto, visto a polaridade acirrada nos últimos tempos, e se isto não poderia ser um estímulo e contribuir para que número de abstenções seja menor, o cientista político responde que este estímulo existe, mas apenas em “eleitores mobilizados”. E completa: “nem todos os eleitores foram mobilizados pela campanha eleitoral. Os eleitores descrentes de que algo possa mudar com os resultados não foram afetados.”
Fonte: Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil, Redação O Sul