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Fundamentais em qualquer época, os profissionais da limpeza pública muitas vezes são heróis anônimos que passam o dia retirando o lixo produzido nos grandes centros urbanos. Neste 16 de maio, quando se comemora o Dia do Gari, nada mais justo do que mostrar a importância desses trabalhadores, considerados essenciais, em tempos de pandemia do novo coronavírus.
Para garantir o recolhimento do lixo das moradias, edifícios comerciais e residenciais – além da limpeza de ruas, parques e praças – os garis da Capital redobraram cuidados com a higiene antes, durante e depois do expediente.
Na esteira de um série de medidas adotadas pela maior parte da população visando evitar o contágio da Covid-19, eles também precisaram se adaptar aos novos tempos para continuar trabalhando sem se descuidar da saúde.
Associada da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa), Simone de Oliveira Soares, 44, afirma que a circulação do vírus impactou diretamente no dia a dia dos profissionais, que sentiram a obrigação de mudar hábitos tanto dentro quanto fora de casa.
Há seis meses na cooperativa, Simone garante que adotou o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e criou novos procedimentos de higienização, a exemplo dos colegas.
Com 2,2 mil associados, a Cootravipa estabeleceu protocolos internos de higienização e desinfecção dos locais de uso comum para prevenção à Covid-19, como o uso do álcool em gel. Os cuidados com a higienização se estendem para dentro de casa, onde mora com a filha Evellyn, 19, que é atendente de nutrição no Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Por conta do trabalho no hospital, Simone garante que a filha já sabe os procedimentos necessários para impedir a contaminação pela doença. “Quando chego em casa, tiro sapato na rua, vou direto para banho, e depois higienizo as mãos com álcool em gel”, observa.
Ela garante que muitas vezes a população reconhece o esforço e a dedicação dos profissionais-. “Recebemos muitos agradecimentos, muitas pessoas acabam nos parabenizando pela limpeza urbana. É muito importante esse reconhecimento, nos estimula bastante”, observa.
Simone garante ter orgulho da profissão, que classifica como ‘experiência incrível’. “Somos profissionais que têm responsabilidade com a cidade, fazemos nosso serviço completamente correto. Então tenho muito orgulho em ser gari”, completa.
Dia 16 de maio é celebrado o Dia do Gari. Foto: Mauro Schaefer
A chegada do novo coronavírus também mudou a rotina de Solon Pereira de Lima Gonçalves, 45, que trabalha há cinco anos na cooperativa. Mas ele observa pontos positivos, como o uso de EPIs e higienização mais frequente. “Chego em casa, tomo banho e passo álcool nas mãos”, destaca.
Gonçalves alerta que a população precisa se conscientizar sobre os perigos oferecidos pela doença, que já matou pelo menos 14 mil brasileiros. “Estamos perdendo nossos irmãos. Isso aí não é uma brincadeira, isso é uma realidade mesmo”, avalia.
Já acostumado ao protocolo de higiene da cooperativa, ele reforça a importância do trabalho de limpeza no momento em que a cidade enfrenta a pandemia da Covid-19. “Temos que sair para a rua e atuar na linha de frente para a cidade não ficar poluída e com sujeira. Não dá para brincar”, destaca.
Gonçalves lembra que antes do vírus o uso de EPIs não era hábito. “Veio isso (vírus) e mudou tudo”, afirma. Apesar do cenário de incertezas, ele garante que os profissionais contam com apoio da população. “Esses dias passou uma senhora e disse para eu ter cuidado com a máscara. A gente cuida deles e eles têm que cuidar da gente”, compara.
Líder de uma equipe da Cootravipa, Dyovana da Silva Santos, 22, explica que os protocolos de higienização e desinfecção dos locais de uso comum servem para prevenção à Covid-19. Na chegada ao trabalho, na sede da empresa, na avenida Farrapos, os associados ganham máscaras e têm as mãos higienizadas com álcool gel, mesmo procedimento adotado para entrar e sair do ônibus que os leva até o local da atividade.
Mãe de Mikael, 6, Pablo Daniel, 2, Dyovana também sentiu necessidade de mudar hábitos longe do local de serviço. “Antigamente quando chegava em casa, sentava e depois ia tomar banho. Agora não, chego, boto a roupa na bacia que meu marido deixa na porta, oriento meu filho a ficar em um canto para eu ir direto para o banheiro”, justifica.
Assim como orienta os colegas na entrada e saída do ônibus, em casa os filhos já adotaram uso de máscara e álcool em gel. No Dia do Gari, ela faz um pedido especial. “Desejaria bastante saúde, paz, que passemos esse vírus com saúde e que venha mais um ano do Gari. Tem pessoas em prédios que nos aplaudem, falam que a gente é herói”, afirma. “A gente até se emociona com o reconhecimento dos moradores”, completa.
Presidente da Cootravipa, Imanjara Marques de Paula esclarece que desde os primeiros decretos municipal e estadual a cooperativa desenvolveu protocolos internos. “À medida que foram saindo as orientações fomos nos adaptando”, destaca.
Ela reconhece que atender todos associados é um desafio. “Somos 2 mil pessoas trabalhando em toda a cidade, não é um local específico, controlado. Porém, estamos imbuídos para que as coisas aconteçam, que a gente consiga criar um ambiente com máximo de segurança para os trabalhadores”, avalia.
Há 27 anos na cooperativa, Imanjara compara o serviço de limpeza urbana ao trabalho de agentes de saúde. “É a mesma importância, eles estão nas ruas varrendo, capinando, tirando vegetação. Todo mundo sabe que a limpeza urbana é essencial nesse momento porque a falta dela, além de trazer acúmulo de resíduos, também traz outras epidemias a que nós estamos sujeitos aqui na cidade”, adverte.
Para Imanjara, a limpeza urbana é ferramenta fundamental na luta contra o novo coronavírus. “Sem limpeza urbana não adiantaria ter saúde pública. Estamos na realidade trabalhando em conjunto”, alerta, enfatizando que a Prefeitura orientou execução de trabalho à parte na higienização em paradas de ônibus e locais que têm mais circulação no Centro Histórico.
Ela garante ainda que nenhum funcionário testou positivo para a Covid-19, embora alguns tenham sido afastados por suspeita de contrair o vírus. “Pessoal já voltou às rotinas. Não foi detectado nenhum caso por enquanto.
Para garantir segurança dos garis, são realizados encontros às segundas-feiras onde os protocolos são repassados às equipes. “É do ser humano ir relaxando um pouco, principalmente nessa época de flexibilização. As pessoas têm falsa noção de que a coisa está mais segura”, lembra.
Ela observa que o sócio da cooperativa é de periferia, o que reforça a necessidade de conscientização para medidas preventivas. “Todos têm que comprar essa ideia. Eles estão levando isso para as famílias, vendo a importância de higienização maior, de um cuidado maior com seus familiares”, finaliza.
Fonte: Foto: Mauro Schaefe, Felipe Samuel, Correio do Povo