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A agropecuária despencou 8% no terceiro trimestre deste ano, em relação aos três meses imediatamente anteriores, e teve o seu pior tombo desde o primeiro trimestre de 2012 (-19,6%).
Em relação a igual período de 2020, o setor caiu 9% e ajudou a puxar a queda de 0,1% Produto Interno Bruto (PIB) do período, informou na quinta-feira (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais motivos foram:
— A seca que derrubou as colheitas de café, laranja, cana-de-açúcar e milho;
— A queda na produção do algodão: produtores preferiram plantar grão em vez da pluma por causa dos bons preços da soja e do milho;
— Redução nos abates dos bois.
Por outro lado, especialistas afirmam que a melhora do clima deve ajudar o desempenho do agro nos últimos três meses do ano, com destaque para a produção do trigo.
Saiba mais a seguir:
Causas
O terceiro trimestre é, normalmente, um período mais fraco para o agro, em relação ao segundo trimestre, diz o economista Renato Conchon, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Isso porque as safras de soja e de milho, dois dos principais grãos exportados pelo Brasil, são concentradas no primeiro e no segundo trimestre, respectivamente.
A falta de chuva que atingiu o campo do segundo semestre de 2020 até o início desta primavera atrasou não só a safra dos dois grãos, como também prejudicou importantes colheitas que ocorrem entre julho e setembro, como as de café, cana-de-açúcar e laranja.
Apesar do atraso, a soja teve mais uma safra recorde este ano e quem sofreu mais foi o milho, cuja produção despencou 16,4% na safra 2020/21, em relação à anterior.
A colheita do grão, que, normalmente, ocorre no segundo trimestre, acabou sendo “jogada” para os meses seguintes, diz Conchon.
Já a produção de café, seria naturalmente mais baixa este ano por conta da bienalidade da cultura: em ano par, a safra alta, e, em ano ímpar, a safra é baixa. Junto com a seca, a cultura sofreu ainda o impacto das geadas durante o inverno.
Para Conchon, entretanto, as geadas terão um impacto maior na próxima colheita, pois o choque climático tem prejudicado o desenvolvimento das plantas.
O algodão, por sua vez, perdeu área de plantio na safra 2020/21 por conta dos bons preços dos grãos. “O produtor fez as contas e viu que milho e soja estavam dando mais rentabilidade”, diz o economista da CNA.
Outro motivo foi o atraso na colheita de grãos. “A janela ficou mais curta e, portanto, ficou mais arriscado para o produtor plantar algodão”, diz César Castro, especialista de agronegócio do Itaú BBA.
Diante desses fatores, segundo o IBGE, houve queda na estimativa da produtividade anual das seguintes culturas: Café (-22,4%); Algodão (-17,5%); Milho (-16,0%); Laranja (-13,8%); Cana-de-açúcar (-7,6%).
Pecuária
Os abates de bovinos recuaram 11,1% no terceiro trimestre de 2021, em relação a igual período 2020, segundo dados do IBGE. — Foto: Divulgação
A pecuária de corte também influenciou o resultado ruim do agro no terceiro trimestre, avalia Castro, do Itaú.
Isso porque os abates de bovinos recuaram 11,1% no período, em relação ao terceiro trimestre de 2020, segundo dados do IBGE.
“Isso ocorreu em função do próprio ciclo da pecuária. Os produtores estão retendo as vacas respondendo aos bons preços dos bezerros. Então, temos um número pequeno de vacas sendo abatidas”, diz Castro.
Para Conchon, o embargo da China às exportações de carne bovina do Brasil teve um impacto moderado no resultado do agro do terceiro trimestre e deve ter um efeito maior nos últimos três meses do ano, por causa de uma redução dos abates.
Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a suspensão chinesa influenciou “um pouco” o desempenho das exportações de julho a setembro, que despencaram 8% em relação aos três meses imediatamente anteriores.
Apesar da expectativa negativa para a pecuária bovina, a melhora do clima tem ajudado o desempenho do agro nos últimos três meses deste ano.
Um dos destaques do período é a colheita do trigo que, nas projeções do Itaú, teve um aumento de 23% nesta safra em relação à anterior, ajudada pelas boas condições climáticas.
Além disso, muito trigo tem sido direcionado para a ração animal, por causa dos preços elevados do milho e soja. Esse fator, somado às frustrações da colheita do cereal em países como Estados Unidos, Canadá e Rússia, tem mantido os preços do trigo em alta, mesmo com o aumento da oferta interna, diz Castro, do Itaú.
Na projeção do banco, entretanto, o PIB do agro deve fechar o ano com retração de 0,8%, após uma alta de 3,8% em 2020.
O analista José Carlos Hausknecht, sócio-direto da MB Associados, prevê uma queda de 1% para o setor este ano.
“É verdade que a safra de soja foi muito boa, mas esse problema da seca ainda é muito sério”, afirma Hausknecht.
Já Conchon, da CNA, trabalha com um número mais positivo e prevê um crescimento de 1,8% para o setor, puxado pela safra de soja.
Fonte: Foto: Wenderson Araujo/CNA, Redação O Sul