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Cansaço físico e mental atinge profissionais da saúde em combate à Covid-19 em Porto Alegre

Cansaço. Essa é a palavra mais repetida por gestores de hospitais da Capital para definir a condição atual das equipes de saúde após nove meses na linha de frente do combate ao novo coronavírus. A fadiga provocada por excesso de trabalho e a necessidade de lidar com uma doença desconhecida cobram um preço alto dos profissionais da saúde. Mais do que o desgaste enfrentado no dia a dia no tratamento de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), eles precisaram se adaptar a novos protocolos e, em alguns casos, buscar apoio psicológico para superar o estresse.

Com uma das maiores estruturas para atendimento a pacientes Covid-19, com 86 leitos de UTI e 40 de enfermaria, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) também sentiu os efeitos da pandemia entre os profissionais de saúde. Chefe do Serviço de Psicologia do HCPA, Márcia Ziebel Ramos explica que o aumento das internações no final do ano, a exemplo de junho e julho, exige mudanças e ‘reconfigurações’ nas equipes para dar conta das escalas de plantão. Além de buscar alternativas para suprir o afastamento de profissionais afastados por adoecimento ou por integrar grupos de risco, Márcia afirma que o desafio agora é superar o desgaste após nove meses de combate à Covid-19.

Cansaço. Essa é a palavra mais repetida por gestores de hospitais da Capital para definir a condição atual das equipes de saúde após nove meses na linha de frente do combate ao novo coronavírus. A fadiga provocada por excesso de trabalho e a necessidade de lidar com uma doença desconhecida cobram um preço alto dos profissionais da saúde. Mais do que o desgaste enfrentado no dia a dia no tratamento de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), eles precisaram se adaptar a novos protocolos e, em alguns casos, buscar apoio psicológico para superar o estresse.

Com uma das maiores estruturas para atendimento a pacientes Covid-19, com 86 leitos de UTI e 40 de enfermaria, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) também sentiu os efeitos da pandemia entre os profissionais de saúde. Chefe do Serviço de Psicologia do HCPA, Márcia Ziebel Ramos explica que o aumento das internações no final do ano, a exemplo de junho e julho, exige mudanças e ‘reconfigurações’ nas equipes para dar conta das escalas de plantão. Além de buscar alternativas para suprir o afastamento de profissionais afastados por adoecimento ou por integrar grupos de risco, Márcia afirma que o desafio agora é superar o desgaste após nove meses de combate à Covid-19.

São três atendimentos por protocolo. “O trabalhador tem possibilidade de conversar sobre a vivência desse tipo de doença, que precisa ficar isolado, sozinho, afastado de todas as pessoas para poder proteger”, explica. O crescimento das internações em UTI, no entanto, traz de volta a preocupação com o desgaste das equipes. “Agora as pessoas estão mais cansada. No início era mais sinal de alerta, cansaço por ter de estar de prontidão, por expectativa. Agora a questão de cansaço é por desgaste, de estar atento para possibilidade de substituição, de rodizio”, compara.

‘As pessoas estão exaustas’

Gerente Médica do Hospital Moinhos de Vento, Gisele Nader Bastos afirma que as equipes envolvidas no combate à doença relaram cansaço e adoecimento por conta do trabalho exaustivo nesses meses de pandemia. “As pessoas estão exaustas”, justifica. No Moinhos de Vento, 60 médicos atuam na emergência e outros 60 na terapia intensiva destinada a pacientes Covid-19, além do corpo clínico com mais de três mil profissionais. Ela reforça que o atendimento a pacientes em estado grave e a lotação total dos leitos do hospital no último mês exigiram esforço e dedicação dos profissionais da saúde. “Isso vem trazendo estafa muito grande para o grupo”, alerta.

Além de utilizar o ‘teto de horas-extras’ para dar conta do atendimento nas UTIs, Gisele afirma que alguns profissionais foram contratados no período. Mesmo assim, ela garante que o comportamento de parte da população, que insiste promover aglomerações e evitar uso de máscara, impacta o trabalho dos profissionais da saúde. “Está todo mundo dizendo que está cansado, mas para o profissional da saúde não deu nunca (para ficar cansado). Ele tem que vir para cá, deixar a família em casa, fazer plantão de 24 horas. Essas pessoas acabam contaminando alguém que precisa vir para o hospital”, critica. “A estrutura física poderia ser ampliada, mas os recursos humanos são finitos, ainda mais de qualidade”, completa.

Desde o início da pandemia, quando ocorreram os primeiros casos de mortes de profissionais de saúde na Itália, o hospital decidiu reforçar os treinamentos e atualizar protocolos. “Montamos vídeos educativos e treinamentos com técnicos e enfermeiros sobre como se paramentar e desparamentar, que é onde ocorre a maior taxa de contaminação entre profissionais”, destaca. Com as festas de fim de ano, Gisele acredita que a transmissão do novo coronavírus deve aumentar, justamente ‘no pior momento da pandemia’. “Vamos ver reflexo disso em janeiro. As pessoas vão deixar de se isolar no Natal e Ano Novo e vão ter que se isolar de novo. A vacina ainda não está no Brasil, existe uma falsa sensação de segurança”, pontua.

‘Cuidado de paciente Covid-19 exige mais carga de trabalho dos profissionais’

Como a maioria dos hospitais que recebem pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, a Santa Casa adotou algumas medidas para evitar desgaste dos profissionais. Nesse período, alguns servidores foram deslocados para atuar nas áreas Covid-19. Gerente corporativa de enfermagem da Santa Casa, Rute Somensi explica que os colaboradores que trabalham na linha de frente de combate à doença passaram a ser avaliados com frequência. Houve flexibilização de escalas de trabalho e uma estrutura de suporte psicológico via telemedicina foi disponibilizada a profissionais com sintomas do novo coronavírus.
Em outros casos, funcionários que se sentiam à vontade para trabalhar em setores com pacientes Covid-19 acabaram realocados. “As pessoas estão cansadas, os recursos são limitados. Não existe forma de a gente sustentar a sobrecarga de trabalho por muito tempo e garantir qualidade de assistência”, observa. Rute garante que o hospital conseguiu dar suporte necessários para que as pessoas pudessem continuar com saúde e ativas, com cuidado especial para gestão de escalas e horas-extras. “A cada turno de trabalho fazemos avaliação dos profissionais e da taxa de ocupação de setores para fazer dimensionamento de equipes”, afirma.
Conforme Rute, entre 4% e 6% dos profissionais de enfermagem revelam cansaço, dor lombar, sintomas relacionados à Covid-19, sintomas gripais. E isso acaba confundido com diagnóstico de Covid-19. Apesar do cenário desafiador, o comprometimento da equipe minimiza os efeitos da pandemia no corpo técnico. “A gente percebe comprometimento até emocionante da equipe, no sentido de que tem entrega muito grande dos colaboradores. Eles compreendem o contexto e, com isso, conseguimos superar toda essa dificuldade que a pandemia vem trazendo quanto a gestão de escalas”, revela. Sobre o aumento das internações na Capital, ela avalia que parte da população descumpre as orientações das autoridades sanitárias.
Ela revela preocupação com as festas de Natal e Ano Novo em função das aglomerações. “As pessoas relaxaram e não entenderam que estamos vivendo momento de pico, com as coisas sendo retomadas aos mesmos patamares. Vai continuar sendo grave antes da vacina”, ressalta. Rute destaca que o trabalho em setores com pacientes diagnosticados com o novo coronavírus cobra atenção redobrada dos profissionais. “O cuidado do paciente Covid-19 exige mais carga de trabalho dos profissionais, porque trabalham com EPIs, com avental, macacão, máscara, que traz cansaço no processo respiratório, além de prejudicar a comunicação. É um momento tenso para essas pessoas nesse contexto de trabalho”, completa.
‘Ano bem complicado e de muito trabalho’
Para evitar o colapso do atendimento em UTIs, o Grupo Hospitalar Conceição (GHC) recebeu autorização para contratação temporária de 1,5 mil profissionais para a rede, mas apenas 800 acabaram admitidos. Diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira explica que o reforço dos funcionários, que ainda estão em atividade, é fundamental para manter o atendimento adequado à população. “É uma mão de obra que nos possibilitou ter um pouco de tranquilidade, mas não total, porque tem quebras de escala por adoecimento”, destaca, acrescentando que as equipes aprenderam a lidar com a doença. “Em média o tempo de permanência em UTI era de 16 dias, mas caiu para 10”, compara.
Apesar do reforço, Oliveira afirma que os funcionários que atuam no tratamento de pacientes Covid-19 apresentam desgaste em uma época do ano em ‘que geralmente se diminui o ritmo’. “O cenário atual é de equipes muito cansadas, está todo mundo exausto de um ano bem complicado e de muito trabalho”, observa. Mesmo com algumas contratações temporárias, ele garante que houve dificuldade para admitir médicos especialistas. “Não conseguimos contratar em nenhum momento, durante a pandemia, médicos intensivistas. É muito difícil. Trabalhamos com o que tínhamos, trazendo de outros hospitais nossos. Pegamos três médicos intensivistas do Cristo Redentor para conseguir dar conta”, ressalta.
Conforme Oliveira, na UTI do hospital Nossa Senhora da Conceição destinada a pacientes Covid-19 atuam de 60 a 80 profissionais. “Não ficamos com trabalho comprometido, mas precisamos manter os cuidados de higiene e evitar aglomerações nas festas de Natal e Ano Novo, mesmo que algumas pessoas estejam cansadas dessas restrições e regras. Não devemos relaxar porque estamos com o vírus circulando”, alerta. O quadro atual do final do ano sinaliza para a necessidade de ampliação dos leitos de UTI. Em dezembro, ao observar o aumento das internações, Nossa Senhora da Conceição e Cristo Redentor – que são administrados pelo GHC – ampliaram leitos de UTI destinados a pacientes Covid-19 e de retaguarda para pacientes não Covid-19.

Fonte: Foto: Alina Souza, Felipe Samuel, Correio do Povo

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