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Mortes por Covid-19 no RS superam homicídios e acidentes de trânsito

Desde que começou a pandemia de Covid-19, os números relativos às vítimas da doença têm recebido várias comparações. Mas uma delas, mostra que já estamos sendo duramente castigados pelo novo coronavírus. A violência, que sempre foi um problema para os gaúchos, vêm caindo, com indicadores mostrando, por exemplo, a redução no número de vítimas de homicídio desde 2018, indo de 2.362 para 1.793 em 2019. Neste ano, de janeiro a junho, 901 morreram por esta causa em todo estado.

Entretanto, a Covid-19 tem se mostrado mais implacável. Em quase cinco meses de pandemia, já morreram 1.750 pela doença no RS. É 94% a mais que todos os homicídios ocorridos no primeiro semestre de 2020 e também superou o total de 2019. Mas em Porto Alegre este número inclusive já ultrapassa o de vítimas da violência. Também já é maior, por exemplo, que o número de mortes no trânsito.

Se observarmos o cenário em Porto Alegre, os números são igualmente desoladores. Já morreram 325 pessoas pelo novo coronavírus, conforme dados da Prefeitura obtidos na manhã desta quinta-feira. Por outro lado, sob o aspecto da segurança pública, neste ano, 149 pessoas foram assassinadas na Capital. Comparado com 2019, os mortos pela Covid-19 já ultrapassam as vítimas da violência: 318 foram assassinadas na cidade no ano passado.

A diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, delegada Vanessa Pitrez, sobre as mortes relacionadas à violência, o que tem acontecido em meio à pandemia se deve às pessoas que foram soltas pelo Poder Judiciário por causa da doença. “Observamos que as solturas de presos em razão das medidas humanitárias aplicadas pelo Judiciário, fez com que muitas pessoas egressas do sistema prisional se tornassem vítimas de homicídio. No mês de maio, um indivíduo, que foi solto pela Covid, foi morto 50 minutos depois, com o alvará de soltura na mão. Egressos em liberdade condicional ou com uso de tornozeleira eletrônica também têm cometido homicídios”, detalha.

Contudo, se para conter a criminalidade basta a Polícia colocar agentes nas ruas e empregar a inteligência na investigação e prevenção de crimes, contra a Covid-19 a estratégia tem que ser outra. “Isso só demonstra claramente a importância do combate ao coronavírus, das pessoas tomarem ações individuais, para evitarmos de perder esta guerra. A importância está na prevenção. Nunca aquele conceito de irmandade e fraternidade estiveram tão presentes nas nossas vidas”, afirma o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade.

Para ele, as armas contra este inimigo são máscara, álcool gel e distanciamento social. “Tradicionalmente morre muito mais gente por acidentes de trânsito, por homicídios. Mas justamente agora não podemos dar menor importância à Covid”, reforça o médico.

“Infelizmente estamos vivendo um momento que nós não gostaríamos de estar passando. Os dados epidemiológicos apontavam, se as nossas políticas de enfrentamento à Covid não fossem as mais adequadas, baseadas no que a ciência vem demonstrando, a gente viria a ter um aumento muito grande no desfecho dos óbitos e é isso que está refletindo na ocupação dos leitos de UTI”, explica o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS), enfermeiro Daniel Menezes de Souza.

O enfermeiro doutor em Saúde Coletiva e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dário Frederico Pasche acredita que muito do enfrentamento à pandemia deveria ser feito por equipes de atenção básica, em particular, as de Estratégia de Saúde da Família (ESF). “Se não tomarmos uma medida na atenção básica, não vai ter leitos suficientes. A taxa de mortalidade tende a subir a pelo menos umas cinco vezes. Precisamos diminuir em uns dois terços a transmissão”, recomenda.

Em outro flanco, as pessoas também precisam colaborar. “No campo comportamental, tu não faz isso de uma hora para outra. É um problema complexo. E ainda temos um conjunto de formadores de opinião, que em sua maioria, menospreza a gravidade do problema e passa uma mensagem dúbia. Infelizmente vêm dias piores ainda”, conclui. As Secretarias Municipal de Saúde de Porto Alegre e a Estadual foram convidadas a comentar sobre o assunto, mas até o fechamento desta reportagem não haviam se manifestado.

 

Fonte: Foto: Alina Souza / CP, Gabriel Guedes, Correio do Povo

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