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Polícia Civil gaúcha ouve testemunhas de ofensas racistas ao cantor Seu Jorge em Porto Alegre

Transcorridos quase cinco dias desde que o cantor carioca Seu Jorge foi alvo de ofensas racistas durante show no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, nesta quinta-feira (20) a Polícia Civil gaúcha começará a ouvir depoimentos de testemunhas do incidente. O primeiro a falar deve ser o presidente do clube, Paulo José Bing, que estava no evento.

Conforme a titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), Andréa Mattos, o plano é ouvir o máximo possível de pessoas, a fim de identificar os autores dos xingamentos discriminatórios cometidos na sede da agremiação no bairro Bela Vista na noite de sexta-feira (14). Ainda não se sabe se o próprio artista se submeterá à oitiva, caso seja intimado.

A investigação já analisa desde o começo desta semana uma série de relatos, bem como áudio e vídeo de gravações registradas durante o incidente. Quem tiver alguma informação que possa contribuir para a apuração do episódio pode enviar mensagem para o número de whatsapp (51) 98595-5034.

Como foi o episódio

Pelo que a Polícia Civil verificou até agora, Seu Jorge foi vaiado, chamado de “macaco”, “negro vagabundo” e outros adjetivos ofensivos discriminatórios, além de ser alvo de gritos imitando sons de primatas. O gesto teria sido uma represália de espectadores à fala do cantor, ainda no palco, sobre questões político-sociais.

Ele havia chamado ao palco, para acompanhá-lo no bis, o cavaquinista Pedrinho da Serrinha, de 15 anos e também negro. Ao discursar sobre os problemas enfrentados pelos jovens afrodescendentes e se manifestar contra a redução da maioridade penal, o cantor foi então hostilizado e abreviou sua performance.

Artista se manifesta

Na noite de segunda-feira (17), o músico de 52 anos postou nas redes sociais um vídeo de 9 minutos, no qual dá sua versão sobre o caso. Sentado em um palco com a bandeira do Rio Grande do Sul projetada ao fundo, ele confirmou as ofensas e classificou o gesto de parte da plateia como “ódio gratuito” e “grosseria racista”.

Seu Jorge também questionou a ausência de negros entre os espectadores e agradeceu ao apoio recebido em todo o País, inclusive por parte de porto-alegrenses que repudiaram o incidente:

“Ao povo negro de toda a Região Sul, quero dizer que amo todos vocês, admiro e respeito. E digo também que estamos mais unidos do que nunca. Vamos vencer essa guerra que segrega nosso povo à miséria e à falta de oportunidades”.

Clube e autoridades

Após a repercussão nacional do fato, a direção do Grêmio Náutico União publicou nota oficial informando que o caso também é alvo de apuração interna. Também prometeu responsabilizar os envolvidos se o crime for provado.

Terça-feira (18) à tarde, o governador gaúcho Ranolfo Vieira Júnior pediu desculpas diretamente ao músico, em telefonema com mais de 10 minutos de duração. A secretária estadual Beatriz Araújo (Cultura), por sua vez, emitiu nota de repúdio ao episódio. E o prefeito da Capital postou mensagem de solidariedade nas redes sociais.

Outro que se manifestou foi o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), candidato a um novo mandato ao Palácio Piratini neste segundo turno. Em vídeo no Instagram, ele lamentou o incidente: “Seu Jorge respondeu à agressão com grandeza. Respeito e me somo à luta dele e de todos os que se insurgem contra o preconceito”.

Nesta quarta-feira (19), durante ato de campanha na capital gaúcha, o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se manifestou sobre o caso. Ele disse que os ataques sofridos por Seu Jorge não representam o povo do Rio Grande do Sul. “Esse preconceito é de uma minoria que não sabe respeitar a democracia”.

(Marcello Campos)

Fonte: Foto: Reprodução, Redação O Sul

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