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Inaugurado há três anos, o setor do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre responsável pelo tratamento de fraturas da pelve e do acetábulo (porcão óssea responsável pela articulação dessa área com o fêmur) já atendeu ao menos 150 pacientes. E tem evoluído de tal forma nesse tipo de atendimento que se tornou referência nacional.
Houve redução drástica do tempo de demora no tratamento definitivo, em geral com a realização do procedimento cirúrgico nos dois ou três primeiros dias, conforme preconizado. O período de internação raramente ultrapassa uma semana, em contraste com situações anteriores em que se aguardava até 45 dias para transferência a um serviço especializado.
“A constituição da equipe, que possibilitou o início da operação, foi um divisor de águas”, explica o ortopedista Ronei Anzolch, diretor técnico do HPS. Seu colega Leonardo Comerlatto, um dos três traumatologistas da equipe, acrescenta que a faixa etária dos operados é ampla, tendo o mais jovem 5 e o mais idoso 94 anos.
“Já operamos dois grandes queimados, uma gestante com fratura de acetábulo”, relata. “E como o HPS possui unidade de terapia intensiva [UTI] para trauma pediátrico e é referência para crianças graves, também realiza tratamento cirúrgico de fraturas de pelve no chamado ‘esqueleto imaturo’, bastante raras de ocorrer e de necessitar cirurgia.”
Além disso, são cada vez mais frequentes as lesões na região do quadril em idosos. Comerlatto enfatiza: “Essas, com tendência de crescimento ainda maior devido ao envelhecimento populacional”.
Cabe à equipe avaliar, discutir e operar todos os casos, dedicando tempo e energia para se perfeiçoar no tema. Seus integrantes fazem questão de reconhecer a importância dos outros profissionais do hospital para o êxito do serviço e, é claro, da recuperação dos pacientes:
“Enfermeiros, técnicos de enfermagem e de radiologia do bloco cirúrgico e da sala de recuperação são peças fundamentais nesse tipo de cirurgia. São profissionais que também acabam se tornando especialistas em suas respectivas áreas no contexto dessas fraturas”.
Para o traumatologista, os benefícios contemplam todo o sistema. Tempo de internação mais curto, menos complicações clínicas e tudo o que envolve uma internação prolongada, redução do potencial das possíveis sequelas definitivas relacionadas a esse tipo de fratura complexa são alguns dos pontos a serem destacados.
“Com o novo protocolo, há um avanço no prognóstico, ou seja, mais rapidamente podemos trazer o paciente para o quadro mais próximo possível do que vivia antes do trauma”, diz o diretor técnico Ronei Anzolch.
O diretor técnico Anzolch lembra que os pacientes que passam pelo serviço são acompanhados durante o pós-cirúrgico no Hospital Independência, que é o serviço de retaguarda do HPS para traumatologia. Atualmente, 15 pacientes são acompanhados pelo atendimento ambulatorial do Hospital Independência.
Reconhecimento
Também é comum os procedimentos realizados no HPS serem acompanhados por médicos de outros serviços especializados da Capital e Interior do Estado. “Rapidamente nos tornamos um centro de referência e operamos um volume grande de pacientes”, diz Anzolch.
Comerlatto explica que são poucos os profissionais no Estado que estão aptos a realizar esse tipo de procedimento, pela complexidade:
“A maioria das instituições de traumatologia em Porto Alegre não tem condições ou mesmo interesse em receber esses pacientes graves. Quando esses eram admitidos no HPS, recebiam o primeiro atendimento de urgência mas o tratamento definitivo dependia da transferência a outro hospital, em geral demorada”.
Pela complexidade e repercussões negativas que a demora do tratamento pode inferir aos pacientes, Comerlatto destaca que a melhor chance de recuperar o paciente é operando da forma mais precoce possível: “Esse é o fator-chave que nos diferencia dos outros hospitais públicos do Estado: operar uma grande demanda, com qualidade e em tempo adequado”.
Recentemente, o serviço recebeu reconhecimento nacional por um estudo que trata de manejo de placa em formato de T em cirurgias de quadril na região do acetábulo, recebendo o prêmio de segundo melhor pôster do Congresso Brasileiro de Trauma Ortopédico, realizado de 18 a 21 de maio, no Rio de Janeiro. Comerlatto compartilha:
“É um trabalho interessante, porque demonstramos o uso de um implante simples, barato, disponibilizado pelo SUS e tradicionalmente utilizado para outra finalidade, mas que adaptamos para aplicação em um padrão muito específico e grave de fratura do acetábulo”.
(Marcello Campos)
Fonte: Foto: Cristine Rochol/PMPA, Redação O Sul